(M)Orador de rua

0,25 0,30 0,40 0,50 é acho que dá.

Ele chegou quieto, sem chamar atenção. Com a cabeça baixa, coberta por um chapéu preto, sujo e desbotado. Parou na mureta da fonte e olhou em volta. Estava no centro da cidade, um turbilhão de pessoas passava de um lado para o outro naquela tarde quente de terça-feira. Tirou o chapéu e o colocou no chão, perto da mureta, subiu na fonte e pode olhar sobre a cabeça de todos. Era um palco, era o que ele precisava, um palco. Ajeitou a camisa velha no corpo, firmou a havaiana azul na mureta da fonte e respirou fundo e começou a falar para a multidão. No começo ninguém se deu conta do discurso daquele homem sujo que tinha a aparência de sofá velho. Entre um verso e outro ele aumentava o tom de voz, isso foi chamando atenção do povo. Não demorou muito e a platéia estava formada na frente da fonte, todos a apreciar aquele discurso insólito. Ele falava sobre tudo, desde a fome do mundo até os problemas de segurança nas cidades. Era surreal, quem passava no local não acreditava que aquele homem sujo e mal vestido, estava vertendo palavras tão sábias e conscientes. Como um acordo pré-estabelecido, as pessoas depositavam quantias variadas no chapéu do orador urbano. Moedas e cédulas iam se acumulando na cuia improvisada, dando ao homem uma quantia considerável pelas suas palavras. Já no fim do discurso e doido para pegar seu lucro o homem fez seu último apelo:

-E vou finalizando minhas palavras, pedindo a vocês amigos, que olhem para nossas crianças, elas são o nosso futuro, e sem ela...Ei garoto deixa isso aí! Pára, devolve meu chapéu!!! Trombadinha filho da putaaaaa!Pega!pega!.

Nada adiantou, para desespero do homem , o menino movido pela cola estava bem longe e muito, muito feliz. Ele esperou desde o começo , viu o chapéu encher, ouviu o discurso todo e saiu ganhando no final.

Moral da história : Fale menos e faça mais ou escreva menos no blog e trabalhe mais.

Corrigido por Janaina Lima